26 de mar. de 2013

[Cartas] ANTON TCHÉKHOV – Alguns conselhos



[ PEDRO LUSO DE CARVALHO ]


A editora paulista Martins Fontes publicou em 2007 o livro Sem trama e sem final, de Anton Tchékhov (1860 – 1904), que tem por subtítulo 99 conselhos de escrita. O livro de 109 páginas é composto de cartas e de apontamentos do teatrólogo e contista russo.

Piero Brunello (Itália, 1948), professor de história social na Universitá Ca’Foscari, Veneza, foi o responsável pelo prefácio e pela seleção de trechos retirados de traduções da correspondência de Tchékhov publicados na Itália.

Nessa edição da Martins Fontes, a tradução deu-se diretamente do russo. Os tradutores desses trechos foram Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade. A seleção foi feita com base nos 12 volumes da correspondência de Tchékhov que pertencem às suas Obras completas e cartas em 30  volumes.

Para esta postagem, escolhemos alguns conselhos de escrita, que compõem o livro Sem trama e sem final, de Anton Tchéckhov,  como segue:


         [ESPAÇO PARA CARTAS]


PORQUE ESCREVO

Suas linhas a respeito de locomotivas, trilhos, nariz que adentra a terra, são cativantes, mas injustas. Não é de escrever que se espera o nariz no chão; pelo contrário, escreve-se porque o nariz fica espetado e não dá para seguir adiante!


A MAKSIM GÓRKI
   Ialta, 18 de janeiro de 1899

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VONTADE DE ESCREVER, VONTADE DE VIVER


Não tenho vontade de escrever, e além do mais é difícil unir o desejo de viver e o desejo de escrever.


A ALEKSANDR TCHÉKHOV,
      Miélikhovo, 15 de abril de 1894
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CONHECER OS PRÓPRIOS LEITORES

Você vai viajar pela Rússia? Boa viagem, bons ventos o levem, embora ache que, enquanto ainda é jovem e saudável, você deveria passar uns dois ou três anos viajando não a pé nem de terceira classe, mas para observar mais de perto o público que o lê. Então, depois de dois ou três anos, pode até viajar a pé.


A MAKSIM GÓRKI
   Moscou, 27 de junho de 1899
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SEM TRAMA E SEM FINAL


Parabéns pela estreia em em Nóvoie Vriémia.
Por que não escolheste um tema sério? A forma é excelente, mas as personagens parecem pedaços de pau, o tema é insignificante. Uma quinta série de ginásio fazia melhor... Pega alguma coisa da vida, de todos os dias, sem tramas e sem final.

                                        
                                                                                              A ALEKSANDR TCHÉKHOV,
                                                                                                 Bábkino, 16 de junho de 1887

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LER, OLHAR PARA TUDO E OUVIR


A respeito de Sacalina [...] Pretendo escrever apenas umas cem ou duzentas páginas e, com isso, saldar um pouco do meu débito para com a medicina, perante a qual, como é do seu conhecimento, não passo de um porco. Pode ser que eu não consiga escrever nada, mas, ainda assim, a viagem mantém para mim o seu aroma: lendo, olhando para tudo e ouvindo, conhecerei e aprenderei muito. Ainda não viajei, mas graças aos livros, que agora li por necessidade, fiquei sabendo muita coisa que todos devem saber, sob pena de quarenta açoites, e que minha ignorância não me permitiu conhecer antes.


A ALEKSEI SUVÓRIN,
Moscou, 9 de março de 1890

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NÃO BURILAR MUITO


Não retoques, não buriles demais, sê estouvado e audacioso. A brevidade é irmã do talento.


A ALEKSANDR TCHÉKHOV,
Moscou, 11 de abril de 1889


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(In Sem trama e final: (99 conselhos de escrita/Anton Pávlovich Tchéckhov. São Paulo: Martins, 2007 – (Coleção Prosa), p. 33, 35, 39, 42, 43.)


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