por Pedro Luso de Carvalho
Em 1928, Sartre termina o curso de Filosofia.
Nesse ano, prestou o serviço militar em Tours, na função de meteorologista.
Retornou a Paris em 1930, de onde sairia para a cidade portuária de Havre, para
ensinar Filosofia numa escola secundária, e depois em Laon, no Nordeste da
França. Numa de suas voltas a Paris, encontrou-se, num café de Montparnasse,
com seu ex-colega da Escola Normal, Raymond Aron, que retornava de Berlim, onde
fora estudar a doutrina fenomenologista do filósofo Edmund Husserl (1859-1938).
Com eles, encontrava-se Simone de Beauvoir; em suas memórias, La Force de L’Âge (Na Força da Idade), a escritora relata esse encontro:
“Está vendo, meu amigo, afirmava Aron
apontando seu copo; "se você é femenologista, pode falar deste coquetel e
estará falando de filosofia". Sartre empalideceu de emoção, ou quase: era
exatamente o que ambicionava havia anos: falar das coisas tais como as tocava,
e que isso fosse filosofia. Aron convenceu-o de que a femenologia atendia
exatamente a suas preocupações: ultrapassar a oposição do idealismo e do
realismo...”. A oposição era eliminada por Husserl, segundo essa assertiva:
“Toda consciência é consciência de alguma coisa”. Para o filósofo alemão, ideias
e coisas não podem ser separadas e constituem um único fenômeno.
Depois de ter uma bolsa para estudar um ano em
Berlim, em 1933, Sartre estudou, além das teorias de Hussrl, as teorias
existencialistas de Heidegger, Karl Jaspers e Max Scheler (1874-1928), que
aprofundavam as idéias de Kierkegaard sobre a angústia e o vazio da existência
humana. O jovem filósofo Sartre sentia-se inclinado para uma nova filosofia,
misto de existencialismo e femenologia. Foi na Alemanha que Sartre exprimiu
essa posição no seu romance (não num texto filosófico) Mélancolie (Melancolia),
que mais tarde teria outro título: A
Náusea.
Os primeiros trabalhos publicados de Sartre
sobre Filosofia pura foram: L’Imagination
(1939) e L’Imaginaire (1940). Segundo
Maurice Cranston: “Sartre deixou-se influenciar por Hussrl e Heidegger, os
quais, todavia, não os conheceu – e acrescenta - esses trabalhos devem-se mais
a Hussrl, o fenomenologista, do que a Heidegger, o existencialista. Mas na obra
filosófica mais substancial de Sartre, L’Être
et le Néant (1943), conquanto subintitulada essai d’ontologie phénoménologique, existe mais do gênero de
filosofia de Heidegger; e o livro é geralmente visto como um tratado, na
realidade como um clássico do existencialismo. O próprio Sartre sempre gostou
de ser conhecido como existencialista”.
Além de ensaios acadêmicos comuns, Sartre
voltou-se para outras formas de escrever - até por ser existencialista.
Escolheu para isso a ficção. Simone de Beauvoir disse em suas memórias: “só a
novela permite ao escritor evocar o jaillissement original da existência”.
Talvez tenha sido por isso que Sartre fez seu nome primeiro como ficcionista.
E, com o êxito obtido com seus romances, ter
abandonado esse gênero, aos quarenta anos de idade, causou justa surpresa. Sua
trajetória na obra de ficção não teve aceitação imediata, mas no ano de 1937,
quando, aos trinta e dois anos foi apresentado a Gaston Gallimard, o mais
poderoso editor francês, este aceitou o seu primeiro romance, que tinha o
título de Melancholia, mas,
persuadido por Gallimard, mudou para La
Nausée (A Náusea). A essa obra,
seguiu-se a publicação de Le Mur (O Muro), pela revista La Nouvelle Revue Française, de um dos
redatores de Gallimard.
Nas próximas publicações (subsequentes)
continuaremos falando da obra de ficção de Sartre, de suas peças para o Teatro
(que, segundo Maurois, foi onde encarnou suas ideias de maneira mais intensa),
e mais: da sua atuação na política, da influência que exerceu sobre a juventude
do pós-guerra, de sua recusa em receber o Premio
Nobel de Literatura etc.
Para acessar a primeira parte deste trabalho, clicar em JEAN-PAUL SARTRE - Parte I
Para acessar a primeira parte deste trabalho, clicar em JEAN-PAUL SARTRE - Parte I
REFERÊNCIAS:
SARTRE, Jean-Paul. As Palavras. Tradução de J. Guinsburg. 6ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
CRANSTON, Maurice. Sartre. Tradução de Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
THODY, Philip. Sartre. Tradução de Paulo Perdigão e Amena Mayall. Rio de Janeiro: Editora Bloch, 1974.
MAUROIS. André. de Gide a Sartre. Tradução de Maria Clara Mariani Lacerda e Fernando Py. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 197?
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