- PEDRO LUSO DE CARVALHO
NELSON
RODRIGUES - Nelson Falcão Rodrigues – nasceu a 23 de agosto de 1912, em Recife,
e morreu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro. Foi o mais importante
dramaturgo brasileiro do século XX. Nas suas obras ataca o mundo
pequeno-burguês nas teias de ilusão e hipocrisia em que vive.
O próprio Nelson Rodrigues provinha de um
ambiente da pequena burguesia, que lhe proporcionou, desde pequeno, um forte
senso crítico. Durante a Ditadura Militar teve peças censuradas. Suas
principais peças são: Vestido de noiva (1943), Álbum de família (1945),
A falecida (1953), Beijo no asfalto (1960), Toda nudez será
castigada (1965).
O conto A sogra, de Nelson Rodrigues (In A
vida como ela é.../Nelson Rodrigues – Rio de Janeiro: Agir, 2006, p. 20), é
transcrito abaixo:
[ESPAÇO DO CONTO]
A SOGRA
(Nelson Rodrigues)
Quem não gostou foi a futura sogra. Chamou o
filho. Instigou-o: “Essa menina está fazendo você de gato e sapato. Isso não é
papel! Onde é que nós estamos?” Ele, que adorava a noiva, que a colocava acima
de tudo e de todos, cortou o debate: “Vamos mudar de assunto, sim, mamãe?” A
velha, porém, era tremenda. Largou o filho com as seguintes palavras: “Está
certo, não se fala mais nisso. Mas quero te dizer uma coisa: aqui há dente de
coelho.” E o fato é que, sem dizer nada a ninguém, ela andava desconfiadíssima.
De quem ou de que, nem ela própria saberia dizê-lo. Nesta mesma tarde, porém, recorreu
a vários conhecidos, atrás de uma informação, até que descobriu um detetive
particular. Chamou o homem; perguntou:
– O senhor
é discreto?
– Um
túmulo!
– Ótimo.
Eu preciso mesmo de um túmulo. Trata-se do seguinte...
Incumbiu
o sujeito de acompanhar os passos de Margô; advertiu: “Pode ser palpite meu,
mas não custa apurar.” O fulano concordou, grave: “Evidente! Evidente!”
Deixou-o com a super-recomendação: “Ninguém pode saber disso!” Quarenta e oito
horas depois, o detetive reaparecia, de olho esgazeado. Contou, longamente, o
que apurara. De vez em quando, interrompia o relatório para exprimir seu
estupor: “De arder! De arder!” Assombrada, a velha balbuciou: “Eu só acredito
vendo com os meus próprios olhos!” E o detetive: “Amanhã, eu mostro o homem à
senhora!”
* * *