14 de ago. de 2012

[Crônica] TAÍS LUSO / Procura-se um Médico de Família



          por  Pedro Luso de Carvalho

     

        TAÍS LUSO DE CARVALHO diz que resolveu escrever porque achou o meio mais fácil de dizer as coisas sem ser interrompida. 

        Para ela, sua escolha pelas crônicas  veio de seu próprio espírito, de sua visão de ver a vida, de seu processo de desenvolvimento e de sua sensibilidade. A indignação e a contestação fica por conta  da sua personalidade. 

         Taís diz que existem coisas que temos de falar, e que não são de guardar: é uma necessidade de falar para não implodir! "Acho que tenho um senso crítico das coisas bem aguçado e uma pitada de ironia – para aliviar a barra". 

        Quanto  à escolha de seus temas, assim se manifesta: "Sou do tipo que sai à rua levando na bolsa um bloquinho e caneta, para não esquecer de registrar fatos interessantes do nosso cotidiano". 

         E conclui: "Tenho um pouco de farejador, vou indo até encontrar um ponto interessante, seja negativo ou positivo". 

         Taís Luso escreveu contos e crônicas, para oito coletâneas:
500 Outonos - Org. de A.Giraldo / 2000
Sinfonia Falada - ed. Via 7 / 2001
Entrelinhas - ed. Alcance / 2002
Desafios - Alpas XXI / 2002
Emoções - Org.de A.Giraldo, São Paulo / 2001
Encontro de Escritores – ed. Borck / 2001
Reverberações - Org. A.Giraldo / 2001
Luz e Sombra – Org. A.Giraldo / 2002
Escreveu crônicas para a Revista de Artes Dartis, números :
14 – 21 – 24 – 26 – 27 – 28 – 29 – 30 – 31 – 36 – 39 – 40.
Escreveu também, para:
Revista VOTO, fev.2011 /   crônica -  Os Novos ricos
Revista VOTO, julho 2011 /   Crônica - Coisas de Turistas
Jornal Fala Brasil  /  nºs 126 e 127.
Correio do Povo /  crônica A Paz ( 3º lugar).


                                    [ESPAÇO DA CRÔNICA]


                         PROCURA-SE UM MÉDICO DE FAMÍLIA

                                                 (Tais Luso de Carvalho )



Estava pensando numa palavra que fosse bonita e que me trouxesse algum significado. E lembrei logo: saudade! Fiquei pensando numa de minhas saudades e lembrei dos médicos de família. Sem muito querer, tracei um  parâmetro entre os médicos mais antigos e os médicos de hoje.

Há alguns anos existiam  os médicos de família: lembro que os pacientes tinham nome, família, eram tratados e examinados com diferença. Hoje somos números; somos fichas ou carteiras plastificadas. Mas dependendo do plano de saúde, ainda agradecemos pelo tratamento um pouquinho diferenciado. Muitas vezes sinto que são tratadas as doenças e esquecidos os doentes, tal a rapidez, tal a objetividade. Talvez entenda o porquê, mas lastimo.

Será que os médicos de hoje não percebem que nós, quando doentes, ficamos frágeis, assustados e carentes de uma palavra amiga? Será difícil para os médicos perceberem que por medo do diagnóstico é que vamos atrás do médico-amigo? E que temos uma parte emocional que facilmente se desestrutura?

São muitos os que divagam atrás de um profissional com estas características; dos médicos que conheciam nosso corpo e nossa alma. Daqueles médicos que sabiam o que estava acontecendo e por quê. Tenho pena de todos e tenho pena de mim.

Minha filha, hoje adulta, encontrou numa confeitaria  o seu médico de infância: chorou de emoção. Achei lindo, um ato de eterna gratidão. E eu, naquele momento, tentei segurar meus abalos. Agora, ela não tem mais por quem chorar. E nem eu. Todos já se acostumaram com a frieza do atendimento médico. E com isso ambas as partes perderam.

Se os médicos de hoje soubessem da importância deles, das marcas que deixam em nossas vidas,  escutariam mais seus pacientes. Não procuramos um feiticeiro milagroso ou uma promessa falsa; procuramos um ser humano que se interesse pela nossa cura, que tire nossas dúvidas e dê uma palavra de conforto.

São nesses momentos de fragilidade é que precisamos, pelo menos, de um olhar mais terno, mais amigo. Não precisamos de abraços afetuosos nos momentos de alegria e de comemorações: precisamos desse afeto quando nossa alma chora de angústia e de medo. Pouco se vê de humanidade e compaixão. Está tudo tão automatizado, tão impessoal!

Digo-lhes doutores, as doenças nos deixam tão humildes e frágeis que  se fosse possível uma pitadinha de compaixão e de calor humano... Aliviariam nossas dores e, talvez, voltaríamos a chorar de emoção e agradecimento. Acredito que jamais serão esquecidos. Não estaria aí o verdadeiro sentido dessa vocação escolhida?

Depois, podem pedir tomografias, ressonâncias, cintilografias... Todos estes avanços tecnológicos que ajudam na precisão do diagnóstico. Mas peço-lhes que não sejam máquinas, doutores, usem um pouco mais o coração.


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