23 de mai. de 2011

A DIFÍCIL ARTE DA CONVERSAÇÃO



                   por  Pedro Luso de Carvalho 
        
      Encontraremos no Dicionário Aurélio a palavra diálogo com o significado de fala entre duas ou mais pessoas, conversação, colóquio; e o vocábulo dialogar com o sentido de falar alternadamente; conversar. Disse isso a título de introdução deste texto, para que não haja qualquer dúvida sobre a acepção de ambas as palavras por parte de certas pessoas que pensam estarem falando conosco, quando, na realidade, querem apenas um ou mais ouvintes para que possam impor suas idéias, de preferência sem muito esforço.

        Quando me deparo com esse tipo de pessoa, minha defesa está longe de se constituir numa resposta ‘à altura’ do seu avanço verborrágico, pelo contrário, contraio-me e balbucio alguma palavra, muitas vezes sem sentido, que, de resto, disso o falastrão nem se dará conta, já que a ele interessa tão-somente os ‘seus’ ouvintes, para que possa dizer-lhes, mesmo de forma velada, o quanto ele é importante, como são amplos os seus conhecimentos e as suas vivências, e que todos estão diante de alguém que detém muito poder, que o interlocutor é superior às pessoas com as quais pensa estar conversando.

        No meu entender, as pessoas que sofrem dessa compulsão de falar, de defender teses imaginárias, de ter sempre as respostas prontas para quaisquer assuntos, de ignorar que pode existir alguém com alguma experiência de vida, com uma ótima, boa ou razoável bagagem cultural, acadêmica ou não, dificilmente terão amigos leais, pois suas amizades são iniciadas com elos frágeis, que com o tempo rompem-se pelo simples fato de que todos almejam ter um convívio saudável, que é estimulante ter alguém com quem possam conversar sobre coisas que lhes interessam, de saber o que seus companheiros de diálogo pensam dos seus projetos, das suas dúvidas, dos seus temores, dos seus amores, da sua solidão etc.

        Mas, a realidade é que, por mais otimistas que possamos ser, essas pessoas jamais mudarão; pelo contrário, com o passar dos anos elas se sentirão cada vez mais o centro de tudo que as cerca, enquanto aquelas pessoas que por algum tempo foram suas amigas, carentes de diálogos se porão em fuga, deixando-as rodeadas de pessoas com outro tipo de fragilidade, a de caráter, dispostas a tudo para agradar a quem precisa de falsos afagos, sempre à espera de algum tipo de recompensa.