por Pedro Luso de
Carvalho
EDGAR ALLAN POE (1809-1849) foi poeta, contista e ensaísta. William
Carlos Williams dizia que Poe foi o primeiro autor verdadeiramente americano. Poe
foi também o criador do romance policial. Seus compatriotas, os norte-americanos,
somente vieram a reconhecer seus méritos literários dois anos antes de sua
morte; antes disso os franceses já haviam se dado conta da importância de seu
trabalho, divulgando-o na Europa. Poe era, sem dúvida, dotado de privilegiada
inteligência e de inquestionável talento, que os canalizou para a poesia, para
o conto e para o ensaio.
O reconhecimento da obra magnífica de Edgar Allan Poe deveu-se a Charles
Baudelaire e Mallarmé, que o tornaram conhecido na França e na Europa. A estes
dois franceses somaram-se outros tantos nomes importantes da literatura e da
crítica de outras nacionalidades, como, por exemplo, o argentino Jorge Luís
Borges; todos eles contribuíram para a divulgação da poesia, da ficção e do
ensaio de Poe.
Segue o poema Só, de Edgar Allan Poe, que integra o livro Poemas e Ensaios/Edgar Allan Poe.
Tradução de Osmar Mendes e Milton Amado. Revisão e notas de Carmen vera Cirne
Lima. 3ª ed. revista. São Paulo: Globo, 1999, p. 72:
[ESPAÇO DA POESIA]
Só
(Edgar Allan Poe)
Não fui, na infância,
como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não
podia
tirar de fonte igual à
deles;
e era outra a origem da
tristeza,
e era outro o canto, que
acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei
sozinho.
Assim, na minha infância,
na alba
da tormentosa vida,
ergueu-se,
no bem, no mal, de cada
abismo,
a encadear-se, o meu
mistério.
Veio dos rios, veio da
fonte,
da rubra escarpa da
montanha,
do sol, que todo me
envolvia
em outonais clarões
dourados;
e dos relâmpagos
vermelhos
que o céu inteiro
incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se
alteava,
só no amplo azul do céu
puríssimo,
como um demônio, ante
meus olhos.
* * *