23 de mar. de 2012

VARGAS LLOSA – Pequena História do Entrevistado

Mario Vargas Llosa


                por Pedro Luso de Carvalho


      Em 1982, a Editora Nova Fronteira lançou a 3ª edição de Os chefes, o primeiro livro de Mário Vargas Llosa, e que, por coincidência, foi o primeiro livro que li desse escritor. O conto Os chefes, que dá título ao livro, é um dos seis contos que compõem a obra, e mais a novela Os filhotes. A primeira edição desse livro deu-se em Lima, Peru, na segunda metade dos anos 50, quando o escritor contava com apenas 22 anos. Em 1958 Vargas Llosa recebeu o importante prêmio Leopoldo Alas, como o melhor livro do ano de seu país.

        Depois de Os chefes, o entusiasmo pela literatura de Vargas Llosa levou-me a ler outras obras suas, as quais destaco independentemente das datas de suas edições e de minhas leituras: Conversa na Catedral, Pantaleão e as visitadoras, Tia Julia e o escrevinhador, História de Mayta, e, por último, Quem matou Palomino Molero. Atualmente, estou lendo o seu livro de ensaios literários, A verdade das mentiras, da editora ARX, 2ª edição, 2004. Na primeira edição, em 1999, o livro continha vinte e seis ensaios, e passou para trinta e seis ensaios na 2ª edição (2004).

         Sobre Vargas Llosa, li também a entrevista que concedeu à Revista Playboy, feita por Ricardo A. Setti, em 1986, e que depois se transformou em livro, com edição pela Editora Brasiliense, com o título Conversas com Vargas Llosa. Antes de iniciar essa entrevista, que foi feita durante três dias - até então a mais longa que concedera, segundo sua afirmação ao entrevistador' -, Setti faz um prefácio com o título Pequena história do entrevistado e da entrevista, do qual extraímos apenas algumas passagens: "Ele tem com seu país, o Peru, uma relação especialíssima – mais adúltera que conjugal, cheia de suspeita, paixão e fúria, como ele próprio define”.

        Ainda no prefácio, Setti fala um pouco mais sobre o escritor: “nascido em 1936, em Arequipa, no sul do Peru, Vargas Llosa viveu na Bolívia até os oito anos de idade e virtualmente só conheceu o próprio pai aos dez anos de idade, quando seus pais, separados, se reconciliaram. Filho único de uma família de classe média com ramificações pela elite peruana – seu avô materno era primo-irmão de um presidente da República, ele estudou num colégio militar (experiência marcante a ponto de lhe inspirar o primeiro romance Batismo de fogo) antes de seguir o caminho tradicional da Faculdade de Direito na antiqüíssima Universidade de San Marcos, onde se formou numa profissão que nunca exerceria”.

        Antes de transcrevermos as duas primeiras respostas de Vargas Llosa - hoje um Nobel de Literatura -, na referida entrevista, digo da minha intenção de continuar com Conversas com Vargas Llosa, em postagens futuras, intercalando-as com outros trabalhos. Antes, porém, da sua primeira resposta à pergunta do entrevistador, lembro de outras obras de ficção do escritor, além das que nos referimos acima: O batismo de fogo, A orgia perpétua, A senhorita de Tacna, A guerra do fim do mundo e Contra o vento e maré. (É possível que não tenha mencionado todos.)

        Ricardo A. Setti, disse a Vargas Llosa ser ele um escritor famoso e que naturalmente os seus leitores no Brasil sabem o que ele escreveu e como escreve. Depois, perguntou ao escritor quais são as suas leituras, e esta foi a sua resposta: “Olha, comigo acontece desde já alguns anos uma coisa curiosa. Eu me dei conta de que leio cada vez menos os escritores vivos, e cada vez mais os mortos. Leio muito mais escritores do século XIX do que do século XX. Talvez nos últimos anos, além disso, eu esteja lendo menos literatura do que ensaístas e historiadores. Não sei bem porque. Bem, em alguns casos por razão de trabalho, mas também me ocorre uma coisa: quando se tem 15 ou 18 anos de idade, existe a impressão de que se dispõe de todo o tempo do mundo. Quando temos 50 anos, nós nos damos conta de que não dispomos de todo o tempo, e de que temos que ser muito seletivos. Talvez pó isso eu leia menos meus contemporâneos”.

        Por hoje, ficaremos com a segunda resposta de Vargas Llosa à pergunta de Setti, qual seja, de quem ele gosta, dos contemporâneos, vivos ou já mortos, que lê: “Quando jovem, um autor que eu seguia de maneira sistemática era Sartre. Entre os romancistas americanos, li, sobretudo os da geração perdida – Faulkner, Hemingway, Fitzgerald, Dos Passos -, principalmente Faulkner. Ele é um dos poucos autores de minhas leituras de juventude que ainda se conservam vivos para mim. Nunca me senti decepcionado ao reler Faulkner, como ocorreu por vezes com Hemingway, por exemplo. Sartre é um escritor que eu não releria hoje – diante de tudo o mais que li, acho que sua obra de ficção envelheceu e se empobreceu tremendamente, e sua obra de ensaísta, que me pareceu sempre muito inteligente, considero hoje muito menos importante, com muitas contradições, equívocos, inexatidões e falácias. Isso nunca aconteceu, para mim, com Faulkner. Jamais”.


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         In Conversas com Vargas Llosa, de Ricardo A.Setti,  São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.


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