17 de set. de 2010

ANATOLE FRANCE - Rebelde no Index



           por Pedro Luso de Carvalho


        Jacques Antoine Anatole Thibault, que adotou o pseudônimo de Anatole France, nasceu em 16 de abril de 1844, em Paris, onde morreu, em 12 de outubro de 1924. Foram seus mentores intelectuais, Sainte-Beuve, e, em especial, Renan. Dos escritores do passado, sofreu influência de Rabelais e de Voltaire. Iniciou sua carreira literária com a publicação do livro de poemas Poèmes Dores, em 1873.

        No Brasil, foi editada a coleção História Contemporânea, de Anatole France, que é composta pelos romances À sombra do olmo, O manequim de vime, O anel de ametista e Monsieur Bergeret em Paris, pela editora Difel, em 1986, com apresentação de Mário da Silva Brito, poeta, crítico e historiador da literatura (autor de História do Modernismo Brasileiro, editado pela Civilização Brasileira em 1978).

        A editora Francisco Alves publicou em 1983, de Anatole France, As sete mulheres de Barba-Azul, que integrou a coleção "Clássicos Francisco Alves", com a apresentação de João Guilherme Linke, que foi também o responsável pela tradução da obra. Aliás, a tradução da tetralogia intitulada História Contemporânea, composta pelos romances mencionados no segundo parágrafo deste artigo, também coube a João Guilherme Linke.

        Anatole France ganhou notoriedade com Le crime de Sylvestre Bonnard, romance premiado pela Academia Francesa. Dentre outras obras importantes do escritor, que tive a oportunidade de reler, estão os romances que compreende quatro volumes da História Contemporânea, mencionados acima, o que ocorreu também com As sete mulheres de Barba-Azul. Mais algumas obras de France: Les noce Corinthiennes (poesia) Jocaste, Les Désirs de Jean Servien, Le Chat Maigre, Le livre de Mom Ami, Balthasar (contos), Thais, L’Île des Pingoüins, Les Puits de Sainte-Clair, (contos), Les Lys Rouge, além de outras obras literárias de importância incontestável.

        A carreira literária de Anatole France tomou um novo rumo, no entanto, após ter se decidido a apoiar Émile Zola no seu pedido de revisão do processo que envolveu Dreyfus, conhecido como Caso Dreyfus, momento esse que assinalou para o escritor uma “tomada de consciência social”, levando-o a ligar-se à esquerda socialista, e, mais tarde, já no fim de sua vida, ao Partido Comunista, fato que atraiu a atenção dos intelectuais de esquerda, em que pese à superficialidade de sua militância política.

        Dentre as muitas honrarias que France recebeu, cumpre ser ressaltadas a sua eleição para a Academia Francesa, em 1896, para preencher a vaga de Ferdinand de Lesseps. Outra importante honraria, concedida em 1921 a Anatole France, foi o Prêmio Nobel de Literatura. Seus concorrentes ao Nobel desse ano foram: George Bernard Shaw, H. G. Wells, William Yeats e Henri Bergson. Com o reconhecimento de sua obra pela crítica e pelos leitores, sua arte literária não sofreu qualquer prejuízo quando todos os seus livros foram colocados no Index pela Igreja Católica, em 1922.

        Mário da Silva Brito faz referência à posição que Anatole France desfrutava no quadro das letras francesas durante os vinte primeiros anos do século vinte, como sendo a figura de maior renome desse período: “Era, então, não somente o líder intelectual da França, mas também uma das ‘mais radiantes personalidades literárias da Europa’, no dizer do famoso crítico e historiador Albert Thibaudet. Era moda ler Anatole France, era sinal de bom tom cultivar, como ele, l’ironie e la pitié, dava status intelectual ser anatoliano, isto é, cético e sutil”.

        Sobre a crise pela qual France passou, diz André Maurois: “Depois de longos anos de glória universal, Anatole France foi várias vezes depois de morto injustamente tratado. Ninguém esqueceu o cruel panfleto Um cadáver. O humanismo de France, sua ironia e mesmo sua piedade, só podiam irritar uma geração violenta e dura. Sua procura da harmonia não interessava estilistas que buscavam a dissonância e a linha quebrada. E no entanto ele também foi um rebelde, mas com escrúpulo e inteligência, o que não estava mais na moda. Entre as duas guerras, foi lido cada vez menos. Hoje novas massas de leitores vêm a ele. Publicadas em livros de bolso, algumas de suas obras atingem um imenso público”.




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REFERÊNCIAS:
FRANCE, Anatole. À sombra do olmo. Trad. João Guilherme Linke. São Paulo: Editora Difel, 1986.
FRANCE, Anatole. As sete esposas de Barba-Azul. Trad. João Guilherme Linke. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves, 1983.
MAUROIS, André. De Aragon a Montherlant. Trad. de Paulo Hecker Filho. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1967.



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