16 de out. de 2012

[Poesia] PABLO NERUDA – O Ramo Roubado



 por Pedro Luso de Carvalho


PABLO NERUDA, cujo nome de registro civil era  Neftalí Ricardo Reys Basoalto, nasceu a 12 de julho de 1904, em Parral, Chile. O poeta morreu na capital de seu país, Santiago, em 23 de setembro de 1973. A sua poesia se caracteriza pela invenção e reinvenção de temas profundamente ligados ao amor e à vida.

Neruda, sabidamente um dos mais importantes poetas dos tempos modernos, deixou uma extensa obra, com mais de 50 livros, que foram traduzidos para vários idiomas, tendo uma vendagem superior a um milhão de exemplares.

O intenso lirismo da poesia de Neruda e a sua criatividade prodigiosa, com cinco volumes de poesia publicados quando contava com apenas 22 anos, na década de 1920, contribuiu fortemente para firmar a sua reputação. O seu segundo livro, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, logo se tornou popular e um clássico, em razão da elegância, doçura e profunda melancolia.

Quanto ser ou não comprometida a poesia de Neruda, a resposta correta é dada por José Miguel Ibañez Langlois, também chileno, nascido em Santiago, professor de Literatura da Universidade do Chile: “Neruda como poeta tem o compromisso imediato que a sensibilidade contrai ante o objeto que a estimula: o corpo da mulher, a paisagem, o espetáculo da fome ou da miséria. Não conhecemos outro compromisso de maior profundidade, de Neruda como poeta”.

No ano de 1940 Neruda começou a escrever um poema épico, para o qual levou elementos da flora, da fauna, da história, da mitologia e das lutas políticas da América Latina. O seu livro Alturas de Machu Picchu, inspirado nas civilizações pré-colombianas, viria tornar-se o centro do épico Canto geral (1950).

            Em 1971, a Academia Sueca concedeu a Pablo Neruda o Prêmio Nobel da Literatura.

Segue o poema O ramo roubado, de Pablo Neruda (In Antologia Poética. Pablo Neruda. Tradução de Thiago de Mello. Rio de Janeiro: 1964 p. 71-72):



O RAMO ROUBADO
(Pablo Neruda)



De noite entraremos
para roubar
um ramo florido.

Saltaremos o muro
nas trevas do jardim alheio,
duas sombras na sombra.

Ainda não se foi o inverno,
e a macieira aparece
transformada de repente
em cascata de estrelas perfumadas.

De noite entraremos
até seu palpitante firmamento,
e as tuas mãos pequenas e as minhas
roubarão as estrelas.

E sigilosamente,
em nossa casa,
na noite e na sombra,
entrará com teus passos
o silencioso passo do perfume
e com pés estrelados
o corpo claro da primavera.



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REFERÊNCIAS:
IBAÑEZ LANGLOIS, José Miguel. Rilki, Pound e Neruda: três mestres da poesia contemporânea. Tradução de Antônio José de Almeida Meirelles. São Paulo: Nerman, 1988, p. 137.
HOGAN, Colman/501 Grandes Escritores. Editor Geral Julian Patrick. Pablo Neruda. Tradução Livia Almeida e Pedro Jorgensen Junior. Rio de Janeiro: Sextante, p. 374.


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