por Pedro Luso de
Carvalho
CECÍLIA MEIRELES apareceu no mundo literário do nosso país no ano de
1922, com publicações nas revistas Árvore Nova, Terra de Sol e Festa, que no
período de 1919 a 1927, no qual escritores católicos defendiam a renovação das
letras brasileiras na base do equilíbrio e do pensamento filosófico. O
aparecimento da poetisa deu-se, portanto, por coincidência, na época em que
eclodia o movimento modernista (1922), no qual os escritores nele envolvidos
representavam uma outra tendência.
Cecília Meireles era descendente, pela linha materna, de açorianos de
São Miguel. Nasceu no Rio de Janeiro, a 7 de novembro de 1901, cidade em
morreu, no dia 9 de novembro de 1964, aos 63 anos de idade.
Segue o poema Infância de Cecília Meireles ((In Meireles,
Cecília. Flor de poemas. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 157).
[ESPAÇO DA POESIA]
INFÂNCIA
(Cecília Meireles)
LEVARAM AS GRADES da varanda
por onde a casa se avistava.
As grades de prata.
Levaram a sombra dos limoeiros
por onde rodavam arcos de música
e formigas ruivas.
Levaram a casa de telhado verde
com suas grutas de conchas
e vidraças de flores foscas.
Levaram a dama e o seu velho piano
que tocava, tocava, tocava
a pálida sonata.
Levaram as pálpebras dos antigos sonhos,
deixaram somente a memória
e as lágrimas de agora.
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