por Pedro Luso de
Carvalho
Algumas (duas) das Ideias Fixas de João Cabral de Melo Neto (In
ATHAYDE, Félix de. Ideias fixas de João Cabral de Melo Neto. 4ª impressão.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira: FBN; Mogi das Cruzes, SP: Universidade de Mogi
das Cruzes, 1998, p. 17, 26:
“ARTE – Pode-se dizer que hoje não há uma arte. Não há a poesia. Mas há
artes, há poesias. Cada arte se fragmentou em tantas artes quantos foram os
artistas capazes de fundar um tipo de expressão original.”
(Os poetas estão vivos, Revista Petrobrás, Rio de Janeiro, nº 266,
mar./abr. 1974.)
“CRÍTICA - O fato de ter mais de
10 livros sobre mim não é uma coisa que me deixa muito honrado, não. Tem poetas
melhores do que eu sobre quem não há livros. São poesias muito melhores, de
estruturas mais simples. Mas acontece que eu sinto que a minha poesia presta
para um professor brilhar sobre ela. De forma que isso prova duas coisas: que
eu sou difícil e sou um escritor para professores.”
(Entrevista a Mônica Torentino, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, São
Paulo, 17 jan. 1989.)
Segue o poema de João Cabral de Melo Neto intitulado Cemitérios
Pernambucanos (In DE MELO
NETO, João Cabral. Duas águas/Poemas reunidos. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1956, p. 47):
[ESPAÇO DA POESIA]
CEMITÉRIOS PERNAMBUCANOS
(Nossa Senhora da Luz)
(João Cabral de Melo Neto)
Nesta terra ninguém jaz,
pois também não jaz um rio
noutro rio, nem o mar
é cemitérios de rios.
Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixão.
Portanto eles não se enterram,
são derramados no chão.
Vêm em redes de varandas
abertas ao sol e à chuva.
Trazem suas próprias moscas.
O chão lhe vai como luva.
Morto ao ar livre, agora
à terra livre é que estão.
São tão terra que nem sente
a terra sua intrusão.
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