6 de jan. de 2013

JEAN-PAUL SARTRE – Parte IV (final)




por Pedro Luso de Carvalho


Na terceira parte deste trabalho, mencionamos os primeiros trabalhos filosóficos publicados por Sartre, quais seja: L’Imagination (1939) e L’Imaginaire (1940). Demos ênfase ao fato de que a sua obra mais substancial foi L’Être et le Néant (1943).

Vejamos agora o que escreve André Maurois sobre o Sartre filósofo:

Sartre é filósofo antes de ser romancista. Seus romances, suas novelas, suas peças são encarnações de sua filosofia. Foi através dela que 'conquistou' os homens do seu tempo. A ideia que o tornou um homem ilustre foi unir literatura e filosofia. Ele sempre considerou que em cada época existe apenas uma filosofia viva, a que exprime o movimento geral da sociedade (... ) Sartre não acredita na existência de Deus. “Deus está morto”, dizia Nietzche. Quanto a Sartre, recebeu Deus de sua família cristã.

 Maurois assim se manifesta sobre a Crítica da Razão Dialética, obra recente, na época:

Numa obra recente (Crítica da Razão Dialética) Sartre estudou as relações entre o existencialismo e o marxismo. Educado num humanismo burguês, ele sentiu, muito cedo, a necessidade de uma filosofia “que o arrancasse à cultura defunta de uma burguesia que vegetava sobre o passado”. O marxismo parecia-lhe ser essa filosofia. “Estávamos convencidos, ao mesmo tempo, de que o marxismo fornecia a única explicação válida da história, e que o existencialismo era a única aproximação concreta da realidade.” Na juventude do seu pensamento as duas doutrinas pareciam-lhe complementares. No entanto os elementos de um conflito existiam. O marxismo é um determinismo. Ele ensina que o pensamento de cada época é condicionado pelos métodos de produção e de distribuição.
 
Nesta altura, Maurois aborda o aborrecimento de Sartre com relação ao socialismo, quando os bolchevistas assumem o poder, e sua ânsia em defender o pensamento original de Marx, no seu entender desvirtuado pelos integrantes do poder: “Hoje em dia quer-se obrigar os indivíduos e os fatos a entrarem em fôrmas pré-fabricadas. Por conservadorismo burocrático, pretendem reduzir as mudanças à igualdade.” E, completa Maurois: “Diante desse marxismo preguiçoso, diz Sartre, é legítimo apelar para o existencialismo”. André Maurois prossegue:

Que se deve concluir? Não que Sartre rejeita o marxismo, mas que tenta recuperar o homem que vive no interior do marxismo. Sem homens vivos e determinados não há história. Hegel já demonstrara que as teses opostas são sempre abstratas, com relação a uma solução que é concreta. (Assim terminará, com uma solução concreta, a abstrata e obsoleta querela entre o liberalismo e o dirigismo). Sartre também se aproxima muito mais da vida no seu teatro que na sua filosofia.

Essa filosofia causou muito barulho; exerceu uma influência. Mas em geral foi pouco compreendida. O povo chamou de existencialistas moças e rapazes de cabeos compridos! Na verdade o existencialismo é uma filosofia da liberdade, grave, profunda, que Sartre expôs brilhantemente, mas que não inventou. Ela veio, como já dissemos, de Kierkegaard, de Husserl. O que fez, com sucesso, um grupo de escritores franceses (e principalmente Sartre e Simone de Beauvoir) foi transpor essa filosofia para romances e dramas aos quais levava um peso e uma ressonância, enquanto, reciporocamente, romances e dramas conferiam ao existencialismo, sobre os espíritos modernos, um poder que jamais teria tido sem essas encarnações.

Por ora, ficamos por aqui. E, como muito mais há para ser dito sobre a filosofia de Sartre, bem como sobre a sua obra ficcional, possivelmente escreveremos novos trabalhos sobre o mestre e sua obra em outra oportunidade.

[Para ler ao primeiro texto sobre Sartre, clique em: JEAN-PAUL SARTE –Parte I]



REFERÊNCIA:
MAUROIS, André, De Gide a Sarte. Tradução de Maria Clara Mariani Lacerda e Fernando Py. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1966.



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